Plataforma de Inteligência Artificial que permite acompanhamento remoto vem melhorar a vida de pessoas com Demência

Somatix, empresa de saúde digital especializada em inteligência artificial, criou solução baseada numa pulseira inteligente que está a ser testada pelo Hospital CUF  Tejo e o Campus Neurológico Sénior

A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa com impacto profundo na vivência e nas rotinas. As pessoas com esta demência não só experienciam mudanças significativas de personalidade e comportamento, como também têm uma progressiva dificuldade em levar a cabo tarefas simples do dia a dia. O declínio cognitivo causado por esta condição representa riscos acrescidos para o desenvolvimento de problemas de saúde adicionais e para acidentes que, por vezes, só são controlados através de hospitalizações.

Procurando trazer mais segurança à vida  dos doentes e reduzir as preocupações dos seus cuidadores, a Roche juntou-se à consultora de inovação colaborativa Beta-i, no âmbito do programa Building Tomorrow Together: Innovation in Dementia, para investir no desenvolvimento de soluções inovadoras que contribuíssem para o avanço do diagnóstico e tratamento de demências.

As informações recolhidas pela plataforma de IA ficam disponíveis para cuidadores e profissionais de saúde numa plataforma online que cumpre os requisitos de confidencialidade e proteção de dados. Esta solução permitirá um acompanhamento mais próximo das pessoas com demência em qualquer altura e a partir de qualquer lugar. Por outro lado, pode melhorar a qualidade de vida e bem-estar, tornando as pessoas capazes de realizar algumas tarefas diárias de forma mais autónoma, recuperando capacidades que previamente lhes possam ter sido retiradas pela manifestação da doença.

As vantagens das pulseiras inteligentes da Somatix já foram comprovadas através de um estudo clínico validado nos Estados Unidos, que demonstrou a diminuição das taxas de reinternamentos, quedas e infeções urinárias em doentes com Alzheimer. Ainda assim, reconhecendo o potencial que esta tecnologia tem para agilizar o processo de tratamento contínuo das demências, o Hospital CUF Tejo e o Campus Neurológico Sénior (CNS) uniram-se à Somatix para fazer mais testes à solução e a novos algoritmos, com a finalidade de ajudar a empresa a incluir mais funcionalidades na plataforma de IA, tornando-a mais completa.

Os algoritmos da plataforma de IA da Somatix estão a ser treinados com informações provenientes dos doentes seguidos no CNS, com vista a detetar e quantificar a ingestão de água, prever o risco de desidratação e monitorizar a toma de medicamentos. Em Setembro, já na última fase do estudo, a CUF irá envolver no projeto os seus pacientes com demência, para  reforçar os dados obtidos na primeira etapa. A parceria com as entidades de saúde portuguesas está a ser crucial no aprimorar da sofisticação do algoritmo da empresa, sobretudo na vertente de controlo da medicação. O dispositivo não só está programado para lembrar sobre a toma de medicamentos, como também permite aos cuidadores e médicos gerir o cumprimento do plano clínico proposto.

“Muitas vezes há uma grande perda de informação entre a equipa clínica e os pacientes, pois a sua comunicação só se realiza no momento da consulta. Ajudar a desenvolver uma alternativa que nos pode fornecer uma maior proximidade aos utentes no seu ambiente doméstico afigurou-se, assim, muito importante. Ao obtermos mais informação detalhada e constante sobre o seu estado de saúde, vamos poder tomar decisões mais precisas e, consequentemente, agir atempadamente para prevenir o agravamento do seu quadro clínico.”, refere Catarina Moreira, Diretora de Planeamento Estratégico, Controlo e Inovação da CUF.

Ainda assim, existem alguns desafios a serem ultrapassados até à aplicabilidade real da solução. Entre eles, é importante  perceber se os doentes conseguem aderir em concreto ao uso das pulseiras inteligentes, tendo em conta que a sua condição os pode tornar mais resistentes a alternativas de tratamento.  Há ainda o desafio de conseguir ultrapassar a falta de literacia tecnológica de alguns cuidadores.

Os profissionais de saúde do Hospital CUF Tejo e do CNS acreditam, no entanto, que o futuro do acompanhamento de pessoas com doenças crónicas passará por opções deste género: “A solução poderá tornar-se uma alternativa importante à institucionalização forçada das pessoas com demência, quando os seus cuidadores não conseguirem assegurar a vigilância adequada à sua segurança e saúde no quotidiano. Isto contribuirá para não afastar os doentes dos seus espaços de conforto e das suas famílias, favorecendo o seu equilíbrio e bem-estar”, sublinha Camila Nóbrega, médica neurologista do Campus Neurológico Sénior.

Para a Somatix, a implementação da plataforma de IA de monitorização remota no sistema de saúde português é uma grande possibilidade : “A cultura de investimento na educação e no progresso tecnológico é altamente benéfica para a adoção de novas tecnologias avançadas, como a nossa, que podem ter um impacto positivo na saúde e bem-estar dos seus cidadãos.”, refere Charles Herman, Chief Medical Officer na empresa.

Os estudos feitos em parceria com as instituições nacionais de saúde vão  permitir também à empresa lançar as novas funcionalidades testadas no mercado global, utilizando a sua experiência em Portugal como referência para demonstrar a utilidade da sua tecnologia a outros sistemas de saúde no mundo.