Realidade Virtual ao serviço das pessoas com Alzheimer

Nova solução em realidade virtual que visa a detecção precoce de declínio cognitivo está a ser desenvolvida pela empresa Virtuleap em colaboração com o Grupo Lusíadas Saúde

Desde a existência de programas que ajudam estudantes de medicina a praticar cirurgias, até plataformas 3D que transportam doentes incapacitados para diferentes ambientes, a Realidade Virtual (RV) tem demonstrado várias potencialidades que podem ser aproveitadas para melhorar o diagnóstico e tratamento de doenças crónicas. Entre elas, a Doença de Alzheimer, uma condição que requer um elevado nível de planeamento para agilizar o cuidado do doente nas várias fases pelas quais passam.

Ter tecnologia inovadora ao serviço de uma saúde melhor foi precisamente o que levou a Roche a desenvolver, em conjunto com a consultora de inovação colaborativa Beta-i, o programa Building Tomorrow Together: Innovation in Dementia.

A iniciativa nasceu a partir da necessidade de fomentar soluções sofisticadas que ofereçam uma maior qualidade de vida a pessoas com Doença de Alzheimer, contribuindo para a validação e implementação de tecnologias inovadoras na resposta que as instituições de saúde dispõem para esta patologia.

Em linha com estes objetivos, a Virtuleap, empresa que trabalha na fronteira entre a neurociência e a  Realidade Virtual, criou o Cogniclear VR,  um teste que avalia a capacidade cognitiva dos indivíduos em ambientes imersivos e multissensoriais 3D.

A solução é composta por 14 exercícios que colocam à prova os seus utilizadores em diferentes áreas da função cognitiva, incluindo a memória, a atenção, a capacidade de resolução de problemas e a orientação temporal, entre outras. Tratam-se de capacidades cognitivas também avaliadas pelos testes tradicionais, em formato papel, já cientificamente validados e utilizados em contexto clínico para avaliar o possível declínio cognitivo dos doentes.

A RV oferece um envolvimento superior do utilizador fazendo-o acreditar que a experiência digital é real, ao mesmo tempo que permite uma maior e melhor recolha de dados quando comparada com outras tecnologias. Esses dados incluem diversas variáveis comportamentais que permitem uma descrição mais aprofundada do estado cognitivo dos doentes.

A participação da Virtuleap no Building Tomorrow Together: Innovation in Dementia serviu como ponto de partida para a realização dos primeiros estudos clínicos à solução que foram realizados em colaboração com a Lusíadas Saúde. “Na Lusíadas o nosso foco são as pessoas, e se há alguma tecnologia que pode ser um facilitador numa área tão crucial como a saúde mental, obviamente que temos todo o gosto e empenho em apoiar e colaborar, para que se torne uma realidade para a população em geral. Congratulamos a Roche pela inciativa e a Virtuleap pelo desafio que nos colocaram.”

O projeto piloto contou, até à data com a participação de 30 pessoas em múltiplas sessões de testes.

O objetivo é avaliar o nível de usabilidade do protótipo do Cogniclear VR com uma amostra de participantes com mais de 55 anos num ambiente clínico controlado.

“Até ao momento, as opiniões obtidas por via de questionários sobre a usabilidade da solução têm sido positivas. Todas as observações registadas no piloto contribuem para uma maior correspondência entre o protótipo final e as necessidades específicas dos utilizadores, para os quais o produto tem vindo a ser desenvolvido ”, revela Bebiana Moura, Head of Partnerships da Virtuleap.

A colaboração clínica com a Lusíadas Saúde tem, igualmente, revelado alguns desafios importantes na aplicação prática do Cogniclear VR, que os especialistas da empresa consideram fundamental endereçar, de forma a agilizar a implementação da sua solução.

O processo de recrutamento de participantes em si revelou algumas dificuldades, dado o alvo da tecnologia ser um estrato da população tipicamente com baixa literacia digital e que por vezes apresenta algumas condicionantes físicas que não favorecem a utilização do equipamento de RV. Tendo estes desafios em consideração, o produto tem vindo a ser melhorado de forma a mitigar estas questões.

Para a Virtuleap, o sucesso do estudo dependerá, em última instância, do desenvolvimento de uma ferramenta que corresponda às necessidades e expectativas dos profissionais de saúde mas também  da viabilidade da sua aplicação conseguida através de todo o feedback obtido.

O objetivo final para este produto será a certificação como dispositivo médico, que possa ser utilizado no quotidiano da prática clínica. Este passo irá envolver o desenvolvimento de outros estudos de validação científica que vão ao encontro dos requerimentos estabelecidos pela marcação CE.

O caminho afigura-se longo, mas Amir Bozorgzadeh CEO da Virtuleap considera que a recepção positiva da tecnologia em Portugal é um bom sinal: “Apesar de ainda existirem algumas barreiras à transformação tecnológica, o sistema nacional de saúde já incorpora algumas práticas de telemedicina e ferramentas digitais, pelo que a criação e implementação de novas soluções conta com muitos incentivos no país.”

Tratando-se de uma ferramenta de diagnóstico imersivo, o Cogniclear VR pretende revolucionar a forma como os profissionais de saúde encaram a realização de testes neuropsicológicos nos primeiros momentos de despiste da Doença de Alzheimer. A utilização da como a Realidade Virtual poderá permitir a deteção ds primeiras manifestações de declínio cognitivo, que atualmente não são detectadas pelas ferramentas ao dispor dos profissionais de saúde.

O objetivo é fornecer atempadamente a todos os intervenientes da jornada do doente, informação sobre o seu estado cognitivo, contribuindo para tornar o tratamento precoce dos primeiras manifestações de demência uma realidade.